Fim da recessão não está no horizonte de economistas
O resultado positivo do PIB no início deste ano ainda não é garantia de saída da recessão, na qual o país mergulhou no segundo trimestre de 2014.
Em termos técnicos, uma expansão econômica ocorre quando há crescimento sustentável espalhado em vários setores. Nenhuma dessas características está claramente configurada no Brasil atualmente.
Apesar do bom resultado do agronegócio, a indústria tem apresentado altos e baixos e o setor de serviços continua sofrendo com a falta de demanda em um contexto de desemprego recorde.
Além disso, segundo economistas, o PIB pode voltar a cair neste trimestre, principalmente após a deterioração do cenário político, com risco de paralisia de reformas, como a da Previdência.
“Ainda não via motivo suficiente para dizer que a recessão tinha acabado. A crise política adicionou um viés de baixa extra nessa análise”, diz o economista Paulo Picchetti, da FGV.
Picchetti é um dos sete membros do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), que estabelece, oficialmente, a cronologia das recessões no Brasil.
Ele ressalta que foi difícil determinar o início do atual ciclo recessivo e tudo indica que isso se repetirá no processo para registrar seu fim.
Os comitês de datação de ciclos —no Brasil e em outros países— normalmente esperam algum tempo para anunciar suas decisões e só se manifestam quando percebem elementos convincentes de mudança de rota.
Embora o conceito de dois trimestres seguidos de queda seja a definição mais popular de recessão, na prática, nem sempre isso ocorre.
O Codace estabeleceu o segundo trimestre de 2014 como o marco inicial do atual ciclo, embora ele tenha sido seguido por dois períodos subsequentes de estabilidade do PIB, até que novas contrações voltaram a ser registradas de forma ininterrupta até o fim de 2016.
Agora pode ocorrer o contrário: após a expansão do primeiro trimestre, que sugere o início de retomada, a economia poderá voltar a ter desempenhos negativos.
Segundo analistas de consultorias e instituições financeiras, os dados mais recentes indicam que o PIB do segundo trimestre tem grande chance de nova contração.
O banco Credit Suisse espera contração de 0,5% do PIB de abril a junho. “O resultado do primeiro trimestre foi bom, mostrou uma dinâmica diferente, mas esteve muito concentrado em poucos setores”, diz Leonardo Fonseca, economista da instituição.
Ele explica que a contribuição da agricultura —principal motor da recuperação no início do ano— para a economia como um todo continuará positiva, mas diminuirá.
Além disso, os dados da indústria e do setor de serviços, de forma geral, têm sido fracos. Do lado da demanda, os investimentos voltaram a recuar no primeiro trimestre.
Daqui para a frente, a expectativa de economistas era que o ritmo mais rápido de queda dos juros reduziria o custo do crédito e estimularia os empresários a investir.
Mas, após a piora do cenário político —e seu impacto negativo em variáveis como a taxa de câmbio–, o Banco Central já deixou claro que os cortes da taxa Selic ocorrerão de forma mais lenta –a redução mais recente, neste semana, foi de 0,75 ponto.
A combinação entre juros em queda mais gradual e maior incerteza sobre o futuro pode adiar a retomada do consumo e do investimento. Folha.com