Abertura de capital da Caixa é estudada por equipe de Temer
A Caixa Econômica Federal tem um caminho desenhado para abrir capital daqui a dois anos. A medida chegou a ser cogitada no fim do ano passado pela presidente Dilma Rousseff, mas ficou restrita à área de seguros. Agora, é uma das apostas do PMDB para se tornar uma marca do eventual governo Michel Temer.
A escolha de Gilberto Occhi para a presidência do banco estatal, em substituição a Miriam Belchior – o que é praticamente uma certeza no grupo que assessora Temer –, pode acelerar a abertura de capital.
Funcionário de carreira da Caixa, Occhi, nome sugerido pelo PP, conhece todos os trâmites da instituição, diferentemente da petista Miriam, que foi colocada no banco por Dilma para evitar que o ajuste fiscal rigoroso do então ministro Joaquim Levy chegasse aos programas sociais – principal financiador do Minha Casa, Minha Vida e do Bolsa Família.
Para que uma oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês) seja possível até 2018, ano de novas eleições presidenciais e do término do provável mandato de Temer, o banco teria de passar por uma espécie de saneamento operacional, com a privatização de três áreas: seguros, loterias e cartões. A medida é imprescindível para que a instituição volte a se concentrar na atividade bancária.
O grupo de Temer já se mostrou disposto a fazer um “pente fino” na Caixa, especialmente na questão dos subsídios. Nesta segunda-feira, 9, na apresentação do balanço, o vice-presidente de finanças do banco, Márcio Percival, garantiu que um eventual Temer não identificará, nos números da Caixa, nada além do que já foi apresentado.
Ao Estado, Percival afirmou que a privatização das três áreas valorizaria os ativos da Caixa em negócios que estão pouco explorados e têm potencial para, inclusive, expandir o capital da instituição.
Para a abertura de capital, será também preciso colocar em avaliação o preço que a Caixa cobra pelos serviços prestados ao governo federal, como a administração de fundos (como o FGTS) e o pagamento de benefícios, incluindo o Bolsa Família. De acordo com o balanço, nos três primeiros meses deste ano, a Caixa foi responsável por pagar cerca de 42 milhões de benefícios sociais, o correspondente a R$ 6,9 bilhões.
Dados esses passos, a preparação de todo o material no formato exigido pelos investidores levaria entre seis e nove meses. A partir disso, a apresentação do “novo banco” a investidores levaria mais seis a oito meses, segundo fontes.
Seguros e loterias
O modelo das privatizações para as áreas de seguros e loterias já está definido. Por causa das condições de mercado, a Caixa desistiu do IPO da Caixa Seguridade, mas afirmou que mantém a intenção de iniciar novo processo de oferta, tão logo o mercado se mostre favorável.
A estimativa inicial era de que a nova empresa fosse avaliada em R$ 40 bilhões (o IPO movimentaria R$ 10 bilhões), mas o momento de aversão a risco provocaria um grande desconto no valor da companhia. Fontes do banco disseram que as condições já melhoraram e não descartam que o IPO seja feito ainda em 2016.
Em relação às loterias, o governo já tem pronta uma megalicitação para a loteria instantânea, a raspadinha, que servirá de teste para que outras loterias também possam ser exploradas pela iniciativa privada. Quando os estudos começaram a ser feitos, o governo pretendia levantar R$ 15 bilhões em cinco anos no leilão – R$ 3 bilhões por ano. Agora, com privatização provavelmente por meio de joint venture, o valor anual estimado é de R$ 1 bilhão.
A privatização da área de cartões é a que está mais embrionária. Márcio Percival admite que é preciso melhorar os resultados com esse negócio. A Caixa fechou 2015 com quase 83 milhões de correntistas e poupadores. A base de cartões de crédito do banco era composta por apenas 7,4 milhões.
Sociedade mista
Gilberto Occhi foi ministro das Cidades e da Integração Nacional no governo de Dilma. Na Caixa, exerceu as funções de gerente de mercado no Espírito Santo, superintendente regional em Sergipe e em Alagoas, superintendente da região Nordeste e vice-presidente de governo.
A proposta de abertura de capital – com a Caixa deixando de ser uma estatal integral e passando a ter parte do capital entregue a investidores privados, como o Banco do Brasil – tem grande impacto político, mas terá também reflexos econômicos. Em momento de dificuldade de cumprir a meta fiscal, a abertura de capital geraria recursos para o Tesouro. Estadão