Bradesco gastou R$ 1,262 bilhões com PDV
Dizer que o Bradesco, o segundo maior banco privado do país, vive um período de dificuldades chega a ser loucura. A companhia é um ícone de eficiência e lucrou 15 bilhões de reais em 2016.
As ações ordinárias caíam 2,6% e as preferenciais, 2,5% até as 17h. A queda é uma reação ao balanço do terceiro trimestre divulgado nesta quarta-feira no qual o banco anunciou um lucro líquido de 2,88 bilhões de reais, queda de 26,3% em relação ao trimestre anterior e de 10,9% sobre o mesmo período do ano passado.
O Bradesco ressaltou que o resultado aconteceu por conta de gastos de 1,262 bilhão de reais com o plano de demissão voluntária realizado no terceiro trimestre e ainda 583 milhões de reais de ágio pela aquisição do HSBC.
Excluindo os efeitos não recorrentes, o banco teve uma alta de 7,8% em seu lucro na comparação com o mesmo período do ano passado, totalizando ganhos de 4,81 bilhões de reais. Se o lucro, no fim das contas, cresceu, o que explica a queda das ações?
O principal motivo é o desapontamento dos investidores com a demora na retomada da carteira de crédito do banco. A carteira de crédito total do Bradesco fechou o terceiro trimestre em 486,86 bilhões de reais, queda de 1,4% em relação a junho.
Na comparação com o mesmo período do ano passado, a queda foi maior: de 6,7%. A essa altura do campeonato, passado o pior da crise, investidores e analistas esperavam que a instituição financeira já tivesse iniciado a ampliação de sua carteira de crédito.
A ampliação é importante em um momento de queda na taxa Selic, o que afeta diretamente a margem financeira dos bancos.
“A redução de crédito puxou a margem financeira do banco para baixo. O Bradesco está contornando essa situação com a queda na despesa com provisionamento de calotes e com a alta nas receitas com serviços”, diz Philip Soares, analista da corretora Ativa. “O problema é que eles não vão conseguir compensar isso por muito tempo e precisarão ampliar a carteira de crédito”.
A carteira de crédito do Bradesco seguiu o mesmo movimento do Itaú, que tambémmostrou retração em mais um trimestre (de 2% em comparação o trimestre passado e 5% na comparação anual). As ações do preferenciais Itaú caíram 2,5% desde terça-feira, com a divulgação de seu balanço. O Santander foi o único entre os três a ampliar sua carteira (em 3,5% ante junho e 8,2% em relação a um ano antes).
Curiosamente, o Santander foi o único dentre esses bancos que ficou de fora das aquisições dos últimos anos. O Itaú comprou o varejo do banco americano Citibank no Brasil no ano passado. O Bradesco comprou as operações do HSBC no Brasil em 2015.
A integração ainda não gerou todas as sinergias que o banco espera. Em teleconferência realizada nesta quarta-feira, o presidente de relações com investidores do Bradesco, Alexandre Glüher, afirmou que a integração sistêmica das operações foi concluída com sucesso e as sinergias, de 3,5 bilhões de reais, devem ser finalizadas no fim de 2018.
Quem será o novo banqueiro?
Mais do que desafios no balanço, o Bradesco também tem um problema de sucessão para resolver. Em outubro o banqueiro Lázaro de Mello Brandão, de 91 anos, renunciou ao cargo de presidente do conselho de administração.
Com isso, Luiz Carlos Trabuco Cappi passou a acumular a presidência do conselho junto com sua função de presidente executivo.
Trabuco, atualmente com 66 anos, tinha sua saída prevista para setembro de 2016, mas seu mandato foi estendido até março de 2018. Na data, uma assembleia de acionistas deve escolher o novo presidente do banco.
A sucessão ganhou tons dramáticos em novembro de 2015, quando Marco Antonio Rossi, ex-presidente da Bradesco Seguros e um dos favoritos ao posto de Trabuco, morreu com a queda do jato executivo em que viajava, no interior de Minas Gerais. Atualmente, o nome cotado para a cadeira máxima na Cidade de Deus está entre os sete diretores-executivos do banco.
Desses, dois são praticamente “novatos” no quadros executivos do banco: André Rodrigues Cano, nomeado em janeiro e responsável pela área de recursos humanos, e Octavio de Lazari Junior, que assumiu em maio a presidência da Bradesco Seguros. Apesar de recente, Lazari é uma das principais apostas do mercado, já que a área de seguros costuma ser vista como a “menina dos olhos” no banco.
Além dos dois, os outros diretores são: Domingos Figueiredo de Abreu, responsável pela Tesouraria e pela área de crédito; Maurício Machado de Minas, da área de tecnologia; Marcelo de Araújo Noronha, que comanda o banco de investimentos; Alexandre da Silva Glüher, chefe da área de risco e Josué Augusto Pancini, responsável pelo segmento Prime.
“O ideal para este momento do banco seria o Maurício, já que o banco precisa aprimorar sua estratégia digital”, diz um ex-banqueiro concorrente. “O Bradesco sempre dependeu muito do relacionamento com os clientes nas agências. Hoje eles têm agências enormes e falta modernização”, completa.
Para se adequar à nova realidade dos bancos, que tentam ser mais digitais e concorrem com as famosas fintechs, o banco lançou em junho seu banco digital, o Next. Nesta semana, lançou o primeiro comercial do banco, com o ator Ken Jeong, do filme “Se beber, não case”.
O lançamento do Next, no entanto, acontece em meio a várias iniciativas financeiras100% digitais que já estão há mais de um ano, como o banco Original, o banco Inter e o Nubank. Além de o lançamento ser visto como tardio, o Next tem uma diferença clara: cobra tarifas de seus clientes. Por enquanto, a instituição tem 20.000 clientes.
Analistas e investidores acreditam que, para deixar a crise para trás de uma vez, e para se manter na dianteira tecnológica do mercado, o Bradesco vai ter que ser mais agressivo do que vem sendo. Exame