De alta à queda de 3%: os bilionários balanços de Itaú e Bradesco?
Com tantas cifras bilionárias do setor de bancos, às vezes é difícil entender por que o mercado recebe bem um resultado e nem tanto outro. Essa temporada de resultados foi bastante exemplar nisso, com o Bradesco, mesmo registrando alta no lucro para R$ 4,86 bilhões no quarto trimestre, viu suas ações caírem até cerca de 3% no dia em que divulgou o balanço (em 1 de fevereiro), enquanto o Itaú Unibanco viu seus papéis subirem mais de 3% na última terça-feira.
No caso do Bradesco, a instituição financeira viu seu lucro ser 10,9% maior que no mesmo intervalo do ano anterior, de R$ 4,385 bilhões. Em relação ao resultado dos três meses anteriores, de R$ 4,810 bilhões, o montante foi 1,1% superior. Contudo, apesar da alta do lucro, o resultado foi menor do que o esperado por analistas consultados pela Bloomberg, que esperavam na média um lucro recorrente de R$ 4,96 bilhões.
Para o BTG Pactual, o resultado do quarto trimestre foi pior do que o esperado, principalmente por conta do PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) em alta. “Houve casos no segmento de médias empresas e também precisaram fazer R$ 200 milhões de PDD para garantias, o que afetou o resultado”, apontam os analistas.
Além disso, o opex – capital usado para manter ou melhorar os bens de uma empresa – foi um destaque muito positivo ao longo do ano, mas veio um pouco pior no quarto trimestre. Mas, além do resultado dos últimos três meses do ano passado, o futuro apontado pelo banco também não animou tanto o mercado. O Bradesco divulgou, em relatório que acompanha suas demonstrações financeiras, as projeções para 2018.
O banco espera que sua carteira cresça de 3% a 7% neste exercício na comparação com 2017. No ano passado, a carteira de crédito do Bradesco encolheu 4,3%, em linha com o seu guidance para o período, que projetava retração de até 5%.
Assim, apontaram os analistas, mesmo sem grandes surpresas, o quarto trimestre “poderia jogar contra” a ação do banco dado o valuation do papel. Afinal, até então, os papéis já tinham subido 20% no ano até então.
“Dado o forte desempenho das ações (mais de 20% em janeiro até então), não acreditamos que os investidores vão receber bem os resultados”, apontou o BTG em relatório no dia 1, antes da abertura dos mercados. E, de fato, não receberam. “O guidance, embora muito próximo das expectativas, também não conseguiu inspirar, principalmente com relação ao OPEX (esperamos um declínio na base anual)”, apontaram.
A XP Investimentos reiterou a visão, apontando que, “no curto prazo, as ações do Bradesco poderão ter viés negativo, já que o curto prazo ‘apenas’ confirmou as expectativas e 2018 sinaliza ser um ano relativamente modesto para expansão de lucros”.
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Por outro lado, o Itaú Unibanco registrou lucro líquido recorrente de R$ 6,28 bilhões no 4º trimestre de 2017, em linha com a expectativa do mercado de R$ 6,23 bilhões, mas 8% acima do visto no mesmo período de 2016. No ano passado, o lucro acumulado foi de R$ 24,88 bilhões, alta de 12% frente aos R$ 22,15 bilhões vistos um ano atrás.
Já o estoque de empréstimos do banco fechou 2017 em R$ 593,7 bilhões, impulsionado por linhas como cartão de crédito e para empresas na América Latina, 3,2% frente setembro em uma reversão de tendência depois de vários trimestres em baixa com a recessão econômica.
Se por um lado, houve uma piora no PDD em 5% na base trimestral, a queda da inadimplência animou e mostrou melhora da qualidade do ativo ao apresentar melhora no trimestre, puxada pelos segmentos de pessoa física, micro/pequenas e médias empresas. O segmento de grandes empresas, por outro lado, influenciou negativamente o indicador com aumento de 0,8 ponto percentual.
Neste cenário, o maior banco privado do País atingiu uma rentabilidade sobre o patrimônio líquido de 21,9% no quarto trimestre, alta sequencial de 0,3 por ponto percentual e de 0,8 ponto sobre um ano antes.
Porém, o que chamou a atenção do mercado foram outros dois fatores: em primeiro lugar, o guidance foi considerado positivo. Considerando o efeito da incorporação do Citibank nos números, o banco espera crescimento de 4 a 7% na carteira de crédito total, margem financeira com clientes total entre queda de 0,5% a alta de 3% (no Brasil o intervalo esperado é de -1% a 2,5%) e receita com prestação de serviços e resultado de seguros deve crescer entre 5,5 a 8,5%.
Segundo o BB Investimentos, os números apontados pela instituição financeira “devem levar o mercado a rever o crescimento dos ganhos de 2018, fechando a diferença para o lucro líquido de R$ 27,9 bilhões em 2018, que é 13,2% acima do consenso da Bloomberg”. Para os analistas do BB Investimentos, há um forte potencial de crescimento para o banco, com o ROE (Retorno sobre patrimônio, em inglês) acima dos 20%.
Além disso, o Itaú Unibanco tem gradualmente elevado o volume de distribuição de lucros a acionistas. Incluindo dividendos e juros sobre o capital próprio, o percentual do lucro distribuído, que era de 30,6% em 2015, subiu para 70,6% no ano passado, totalizando cerca de R$ 17,6 bilhões, bem superior à média dos últimos anos e que atrai investidores. Desta forma, destacaram analistas do BofA em relatório, o Itaú aparece como um veículo exposto à recuperação econômica e que também oferece uma boa história de dividendos.
Tais fatores ajudam a explicar a diferença do mercado ao olhar para os números de ambos os bancos, com o mercado vendo o Itaú negociado a um prêmio de 12% ante o Bradesco. Contudo, vale ressaltar que, no acumulado do ano, os papéis de ambas as empresas registram fortes ganhos, mostrando que ambos têm se beneficiado do ambiente de melhora econômica. Mas, após os balanços de 2017, o mercado poderá ter uma sinalização melhor de quais papéis podem subir mais – e quais deles já avançaram o suficiente. InfoMoney