Governo garante 1/3 da receita da Caixa
Mais de um terço das receitas da Caixa tem origem no governo. Nos nove primeiros meses do ano passado, operações para o único controlador do banco geraram 36,5% de todo o faturamento com serviços. A maior parte está relacionada às operações com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O presidente do banco, Gilberto Occhi, considera os números “uma vantagem” e quer renegociar contratos para tentar aumentar os valores recebidos do setor público.
A Caixa depende duas vezes do governo. De um lado, o Tesouro Nacional controla 100% do banco e atualmente é pressionado a reforçar o capital da instituição. Do outro lado do balcão, o governo também é o principal cliente e respondeu por receitas que alcançaram R$ 8,5 bilhões de janeiro a setembro de 2017. Nenhum outro cliente é tão importante para a instituição financeira, que faturou R$ 25,2 bilhões no período.
Entre as operações com o governo, boa parte dos serviços é monopólio do banco federal, como a administração de fundos e programas como o FGTS, loterias, seguro-desemprego e Bolsa Família.
Só com o FGTS, a receita em nove meses somou R$ 6,4 bilhões – mais de quatro vezes o total de R$ 1,55 bilhão obtido com cartões de crédito. A Caixa também recebeu R$ 961 milhões para administrar as loterias federais, R$ 446 milhões para gerir o financiamento estudantil e R$ 324 milhões pela operação do Bolsa Família.
Concentração
Com essa grande concentração em um único cliente, a atividade comercial acaba com menor peso no balanço da Caixa. Enquanto rivais privados têm mais de 35% das receitas com prestação de serviço nos negócios de cartão de crédito, a parcela do banco estatal é de apenas 6,1%.
Além de menor, os cartões também parecem menos rentáveis na Caixa: cada cliente dos bancos privados gera, em média, receita superior a R$ 300 anuais com cartão. Já a receita média no banco estatal está perto de R$ 200.
Occhi não encara a situação como negativa. “Essa é uma vantagem”, diz, ao citar que a Caixa quer potencializar essa relação com o dono ao elevar o preço dos serviços cobrados. “Estou revendo tudo isso sob pena de falar: não faço e não posso fazer porque não me traz retorno e não sustenta a empresa”, explicou o presidente, ao lembrar que os contratos estão há muito tempo sem revisão.
Um dos exemplos é a comissão recebida pela concessão de crédito e acompanhamento de projetos beneficiados por emendas. “Recebo 0,5% no começo e os 2% restantes só no fim. Até lá, morri. O prefeito pode sair e fico com essa bomba”, reclama Occhi, ao citar que pretende mudar a maneira como os pagamentos são feitos ao longo das obras.
A vice-presidente da Moody’s no Brasil, Ceres Lisboa, reconhece que há grande peso do governo “o que faz parte da função do banco”. Mas a analista nota que a direção tem feito esforço para tentar melhorar o resultado financeiro com serviços aos clientes que normalmente têm apenas um produto no banco, como crédito imobiliário ou poupança. Estadão