“Na Crefisa eu trabalhava tanto que chegava a ter ânsia de vômito”
São Paulo – A Crefisa está demitindo funcionários. Mas não porque esteja passando por dificuldades. Afinal, lucrou mais de R$ 2 bilhões nos últimos dois anos. A financeira está mandando embora quem não se sujeita a trabalhar 12 horas diárias sem reclamar. É o que denunciam os próprios trabalhadores.
“Eu entrava às 9h e tinha que sair às 22h. E mesmo assim eles pediam para entrar mais cedo no dia seguinte, às 8h, às 7h”, conta um financiário.
“Meu horário era às 10h e eles pediam para entrar às 9h, mas não conseguia, porque tenho uma filha, e mesmo assim eles coagiam, olhavam feio, chamavam atenção, falavam que a empresa está querendo mais da gente, o gestor ficava na porta anotando os nomes de quem saia às 20h”, acrescenta uma colega.
“Trabalhava das 9h às 22h na segunda, na terça, na quarta. Quando chegava quinta-feira, eu começava a passar mal”, conta um colega. “E não estou falando de um caso atípico, do dia 1º ao dia 5. Era o mês inteiro essa rotina. Eu trabalhava tanto que chegava a ter ânsia de vômito. Se precisava sair às 19h, tinha que justificar ao gestor. Tinha que informar onde eu ia, porque eu precisava sair naquele horário. A gente era obrigado a fazer hora extra. “Quando dava 21h começava um rateio do próprio salário do pessoal para pagar uma pizza. O pessoal tinha que fazer uma vaquinha do próprio bolso para poder comer.”
Ele conta que foi demitido sob a alegação de não estar correspondendo às expectativas da empresa. “Mas nunca tive um feedback negativo, nunca voltou um doc, nunca deixei de entregar a meta, nunca cheguei atrasado. A única coisa que eu estava fazendo era entrar às 9h e sair às 20h, porque eu estava sentindo muita dor no corpo. Tinha que ficar sentado o dia inteiro. Tem muita gente lá com problema de coluna.”
Além da jornada exaustiva, o ambiente profissional era opressor e o assédio moral era comum, revela uma ex-funcionária. “Não podia conversar com o colega do lado. Não podia ficar muito tempo no banheiro, porque eles consideravam inatividade. A gestora falava no microfone para todo mundo ouvir que era para não fazer como o colega que estava há muito tempo no banheiro. Os gestores falavam mal da gente na nossa frente e todo mundo ouvia. O tempo todo era assédio, coação.”
“Eu trabalhei na Crefisa sete anos e estou com problema de estresse, tomando medicamento”, continua a trabalhadora. “Muita gente se afastou porque não aguentou e ficou doente, e quando voltou foi mandada embora. A rotina de trabalho estava afetando a minha saúde. Eu estava acordando no meio da noite, minhas mãos estão formigando. O médico diagnosticou síndrome do túnel de carpo.”
“E compensa o que a gente estava ganhando?”, questiona a trabalhadora. “Não compensa, porque o que eu recebia de hora extra eu gastava com médico e com remédio. E a vida? E a minha filha? Ela fez uma cirurgia e eu não pude nem acompanhar. Hoje eu consigo dormir.”
A legislação trabalhista estabelece que a jornada normal de trabalho é de oito horas diárias, ou 44 horas semanais, acrescida de duas horas extras diárias, no máximo.
Mas os bancários conquistaram, com muita luta, a jornada de seis horas diárias de trabalho, em 1933, e os sábados de descanso, nos anos 1960. Tanto que, quando acionada, é recorrente a Justiça sentenciar como extras as duas horas a mais da jornada de oito horas que praticamente todo bancário cumpre.
Histórico de desrespeito – “Os donos da Crefisa têm um histórico de desrespeitos com seus trabalhadores. São um exemplo do empresariado que patrocinou o desmonte da legislação trabalhista que facilitará a exploração dos empregados”, protesta a secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Neiva Ribeiro. “Os trabalhadores devem denunciar e lutar ao lado do Sindicato, pois na atual conjuntura, a organização e a luta da categoria são as únicas armas contra a retirada dos nossos direitos”, afirma a dirigente. spbancários