‘Não vale chorar pela reforma aprovada’, diz diretor do Dieese
Com um leque de pesquisas que vai do emprego ao preço da cesta básica, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) sofreu um duro golpe com a perda de recursos dos sindicatos, diz o diretor técnico, Clemente Ganz Lúcio.
A entidade, financiada pelo movimento sindical, deve ter no ano que vem metade do orçamento de 2015 e busca alternativas de financiamento para manter as atividades. Leia, a seguir, trechos da entrevista.
Estadão: O que os sindicatos podem fazer para contornar as perdas?
Clemente Ganz Lúcio: Não vale chorar pela reforma aprovada. É o que passou no Congresso. Agora, precisamos ver de que maneira a Justiça do Trabalho e o Ministério Público vão agir para combinar opções alternativas de financiamento para os sindicatos. A legislação trabalhista foi rasgada para quebrar o movimento sindical, mas podemos sair vitoriosos disso, de outros modos, chegar a uma decisão (sobre o financiamento) que pode ser mais coerente, com mais autonomia e prestação de contas aos trabalhadores.
Que impacto a perda de recursos sindicais terá no Dieese?
Estamos trabalhando com um cenário de perdas expressivas, em termos de receita sindical. A hipótese é que o orçamento do ano que vem seja a metade do que tivemos em 2015. Na época, o orçamento era R$ 42 milhões. Em 2019, deve ficar em torno de R$ 20 milhões, isso em um cenário otimista.
A falta de recursos pode comprometer o andamento das pesquisas que o Dieese faz?
Tivemos algumas baixas por decisões de parceiros com quem o Dieese trabalha. Acabamos de interromper a pesquisa de emprego e desemprego em Porto Alegre, que era feita desde os anos 90, por iniciativa do governo gaúcho. O Ceará já tinha feito o mesmo. Se caminharmos para um orçamento cortado pela metade, vamos ter de decidir quais pesquisas deixaremos de fazer.
Além das demissões, o que foi feito para equilibrar as contas?
Abrimos uma campanha para receber doações, fizemos uma parceria com uma universidade para ampliar uma pesquisa sobre cesta básica, criamos um comitê de reestruturação para fazer todo um redesenho do nosso financiamento e estamos tentando imaginar alternativas de financiamento para além do movimento sindical. Isso não é simples. Por sermos uma entidade do movimento sindical, é o caso de termos investidores? É o caso de cobrarmos por serviços que hoje são abertos? É uma reengenharia institucional complexa. O Estado de S. Paulo