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Temer afasta quatro vice-presidentes da Caixa suspeitos de corrupção

O presidente Michel Temer decidiu afastar, por 15 dias, quatro dos 12 vice-presidentes da Caixa Econômica Federal. Eles são suspeitos de corrupção. Temer tomou essa decisão só depois de recomendações do Banco Central do Brasil e do Ministério Público Federal.

A reação do Planalto ao avanço das investigações veio no fim da tarde. O presidente Michel Temer determinou ao ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e ao presidente da Caixa, Gilberto Occhi, que afastassem os vice-presidentes da Caixa por 15 dias.

Depois, em nova nota, a Presidência esclareceu que o afastamento vale para quatro dos 12 vice-presidentes do banco: Antônio Carlos Ferreira, vice-presidente Corporativo; Deusdina dos Reis Pereira, vice de Fundos de Governo e Loterias; Roberto Derziê de Sant’Anna, de Governo; José Henrique Marques da Cruz, vice-presidente de Clientes, Negócios e Transformação Digital.

Temer vinha resistindo a tomar essa atitude. Em dezembro, a Procuradoria da República no Distrito Federal já tinha recomendado a troca dos 12 vice-presidentes por serem indicações políticas em funções essencialmente técnicas e, em alguns casos, por também serem alvo de investigações.

Na semana passada o governo rejeitou a recomendação e manteve todos nos cargos, inclusive os indicados pelo ex-deputado Eduardo Cunha e pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima, que estão presos.

Mas nesta terça-feira, Temer recuou depois de novas recomendações.

No ofício encaminhado ao presidente, o Ministério Público esclarece, que caso o governo continuasse mantendo todos nos cargos, “eventuais novos ilícitos cometidos pelos atuais vice-presidentes da Caixa Econômica Federal poderão gerar a responsabilização civil do próprio presidente”. Ou seja, o presidente teria culpa na escolha do agente público, sem as devidas cautelas.

E o Banco Central também recomendou o “afastamento e substituição dos vice-presidentes em referência” aos quatro nomes apontados pela auditoria independente.

O Jornal Nacional teve acesso a novas informações da investigação feita na Caixa, sobre suspeitas contra seus dirigentes. São dados que embasaram o Banco Central a pedir os afastamentos, e apontam como ligações políticas desses vice-presidentes da Caixa podem ter influenciado o comportamento deles nos cargos.

A auditoria independente contratada pela Caixa diz ter encontrado documentos que podem indicar que o vice-presidente de Governo, Roberto Derziê Sant’Anna, tenha atendido a pedidos ou fornecido informações de operações da Caixa para o atual ministro Moreira Franco e ao presidente Michel Temer.

O ex-superintendente nacional de Médias e Grandes Empresas da Caixa, Giovanni Alves, confirmou na entrevista feita pelos auditores que Derziê pediu informações sobre operações do banco para repassar a Moreira Franco.

Os documentos obtidos durante o processo de análise revelam que Roberto Derziê e Moreira Franco possuem uma relação de proximidade e que Derziê por vezes recebeu pedidos de Moreira Franco, inclusive em relação ao fornecimento de informações sobre status de operação em trâmite na Caixa.

Durante a auditoria, Derziê negou ter fornecido a Moreira Franco as informações solicitadas. Os auditores afirmam que, depois, Derziê mudou de versão sobre e-mails citando Moreira Franco.

Ao ser questionado acerca de e-mails mencionando “cabeça branca” e “CB”, ele prontamente confirmou que se tratava de Moreira Franco, em uma postura bastante diferente da adotada quando depôs à Corregedoria da Caixa sobre o mesmo assunto.

A auditoria também afirmou que, no dia 28 de outubro de 2015, Derziê recebeu um pedido de Temer, então vice-presidente da República. E respondeu que o pleito seria tratado com prioridade: era uma indicação de uma pessoa para o cargo de superintendente da Caixa em Ribeirão Preto, São Paulo.

Derziê disse que indicou o nome a José Henrique Cruz, e que aquele já era o centésimo pedido pelo mesmo nome.

Apesar de negar influência política no cargo que ocupou, Derziê disse aos auditores que Michel Temer percebeu sua utilidade em termos de gestão de repasses nas emendas parlamentares. Ainda segundo Derziê, os dois têm uma relação política personalizada, não partidária.

Os auditores recomendam medidas imediatas à Caixa Econômica, entre elas, obter as contas telefônicas de Derziê para cruzar dados e números e análise patrimonial dele. A auditoria recomenda a continuidade da análise dos arquivos digitais do dirigente afastado.

Cunha teria pressionado 
A auditoria contratada pela Caixa tem o relato de um dirigente afastado sobre pressão de Eduardo Cunha. Segundo a auditoria, Antônio Carlos Ferreira, que foi afastado da vice-presidência Corporativa, contou que assim que foi nomeado começou a receber ligações de Eduardo Cunha que, na época, era deputado federal. Segundo a auditoria, Ferreira relatou que Cunha foi agressivo e mencionou que ele – Antônio Carlos Ferreira – só estava mantido no cargo por causa da concordância de Eduardo Cunha.

Ele contou que entre as condições que Cunha colocou na mesa para que ele fosse mantido no cargo estavam que Ferreira fizesse visitas semanais para prestar contas a Eduardo Cunha e que informasse Cunha sobre operações da Caixa aprovadas e prestes a serem liberadas em valores acima de R$ 50 milhões porque, segundo informação da auditoria, Cunha disse que aquilo ajudaria a rentabilizar seu mandato.

Ferreira disse que negou todos os pedidos e contou tudo para o então presidente da Caixa, Jorge Hereda, que o aconselhou a contar tudo para Michel Temer, então vice-presidente da República.

De acordo com a auditoria, no mesmo dia, Ferreira visitou Michel Temer, que o tranquilizou dizendo que ele deveria continuar trabalhando porque Eduardo Cunha era um deputado controverso e que estava recebendo ligações da Cunha naquele exato momento.

Essas informações foram prestadas pelo próprio dirigente afastado nessa auditoria que foi contratada pela Caixa, uma investigação independente.

O que dizem os citados 
A Caixa declarou que vai cumprir todas as determinações da Presidência da República. A assessoria do Palácio do Planalto e o ministro Moreira Franco não quiseram se manifestar.

Antônio Carlos Ferreira afirmou que não cumpriu as exigências do ex-deputado Eduardo Cunha assim que foi nomeado para a vice-presidência corporativa; que se colocou à disposição do Ministério Público, mas que nunca foi convidado a prestar depoimento; e que o relatório independente de auditoria concluiu que não há indícios de crime cometido por ele.

José Henrique Marques da Cruz afirmou que, desde o início, abriu mão de seus sigilos e que as mensagens não se referiam ao seu nome. José Henrique também disse que a investigação independente registrou que os esclarecimentos dados por ele são verossímeis, e que não foi possível identificar um risco específico em sua atuação.

Roberto Derziê de Sant’Anna e Deusdina dos Reis Pereira não quiseram se manifestar.

O Palácio do Planalto se manifestou por volta das 21h sobre as declarações do vice-presidente afastado da Caixa Econômica Antônio Carlos Ferreira a respeito de uma suposta pressão que ele recebeu do então deputado Eduardo Cunha. Segundo a assessoria do Planalto, ao ser informado, o presidente Temer tranquilizou Ferreira para que mantivesse seu comportamento inalterado. O Globo

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