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Tempo de incertezas no Banco Santander

Presidente do Santander anuncia fim dos caixas humanos no Brasil

Com um discurso de que as pessoas devem se “reabilitar a um mundo diferente”, de que o consumidor precisa “desconstruir” a necessidade de ser atendido por pessoas, em agências físicas, o presidente do Santander Brasil, Sérgio Rial, em entrevista concedida ao jornal O Estado de São Paulo no dia 5 de maio, praticamente anunciou que, até o final de 2019, a figura do caixa humano deverá deixar de existir nas agências brasileiras do banco espanhol. As informações são do Seeb-RO:

O executivo, que assumiu o comando do Santander no Brasil em 2016, comemorou o fato de o Santander Brasil ser a filial mais importante no conglomerado – atingiu, no fim de março, a fatia histórica de 29% nos resultados globais do grupo espanhol, mais do que Inglaterra e a própria Espanha juntas. Por conta disso, é considerado um forte candidato a presidir a matriz do banco a nível global. Para o executivo, a estrutura física, ou seja, agências, é o simbolismo dos organogramas do século 20.

“Desconstruímos as funções organizacionais. Chamamos as estruturas de lojas e não mais de agências. Esperamos terminar o processo este ano em todas as agências. É uma transformação muito clara do desenho do banco. O organograma tradicional deixa de existir. O caixa continua existindo, mas não é mais uma pessoa. Qualquer um pode voltar e fazer a autenticação se for necessário. É um pouco do que acontece em qualquer loja. Raramente você vê nas lojas a figura do caixa”, destacou o executivo quando indagado se esse processo representaria o fim do caixa humano, acrescentando que o consumidor precisa “começar a desconstruir essa necessidade da estrutura física, que deixou de existir”.

Menos agências
Quando questionado sobre uma conseqüente redução do número de agências, Sérgio Rial disse que a “estrutura física será redesenhada, não necessariamente reduzida”.

“Vamos abrir, entre 2018 e 2020, mais de 300 lojas. Só que as lojas vão ser vocacionadas. O banco mudou muito, mas a função custódia não vai mudar. Não é difícil pensar que a riqueza se torne um algoritmo, que terá de ser seguramente custodiado em algum lugar de confiança. A custódia de qualquer moeda não vai mudar. Pode até não ser chamado banco”, descreveu Rial, novamente desconversando sobre uma pergunta direta da equipe de reportagem.

Para o presidente do Sindicato dos Bancários e Trabalhadores do Ramo Financeiro de Rondônia (Seeb-RO), José Pinheiro, essa notícia causa ainda mais preocupação aos empregados do Santander, que já sofrem constantes perseguições e tentativas de demissões, mesmo que o trabalhador tenha dedicado décadas de sua vida ao banco.

“Sérgio Rial deixa claro que é a favor de iniciativas governamentais que foram criadas apenas para atacar direitos dos trabalhadores, como a reforma trabalhista e, atualmente, a reforma da Previdência. É de interesse do Santander – e dos demais bancos privados – o fim da previdência social, para que os brasileiros sejam obrigados a optar pela capitalização e, consequentemente, os bancos privados obterem ainda mais lucro em cima do sofrimento dos trabalhadores”, menciona Pinheiro, acrescentando que, em Rondônia, a medida de ‘extinguir’ os caixas humanos já está sendo colocada em prática, com redução de até metade dos caixas nas agências.

“Além de colaborar com o aumento do desemprego no país, o Santander vai promover consideravelmente a precariedade no atendimento. Clientes e usuários, que atualmente já sofrem com espera de até duas horas, terão menos caixas para atendê-los, e a revolta generalizada será uma rotina dentro das agências. Mas não satisfeito, o Santander ainda quer obrigar o seu funcionário a trabalhar aos sábados, desrespeitando as leis trabalhistas e as convenções e acordos coletivos”, concluiu o dirigente.


Santander recua, e agências não abrem no sábado 11

O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região esteve novamente presente nas cinco agências do Santander na capital paulista que abririam no último sábado 11 para trabalho “voluntário” – isto é, para os bancários trabalharem de graça oferecendo consultoria em educação financeira para clientes e não clientes. O Santander, então, recuou e liberou os trabalhadores antes mesmo das 10h.

“Foi uma grande vitória para os trabalhadores. Queremos garantir o direito dos bancários descansarem aos sábados, o que é uma conquista que data da década de 1960. Vamos continuar atuando todos os sábados até que o banco desista em definitivo deste projeto. Nós entendemos que a proposta está sendo apresentada como uma ação positiva para os bancários, mas na verdade pode ser um ensaio para o banco abrir aos sábados com o comparecimento obrigatório e inclusive com cobrança de metas”, afirmou a dirigente sindical Lucimara Malaquias.

A Lei 9.608/1998 define o trabalho voluntário como “a atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa”. O banco, entretanto, é uma instituição que visa exclusivamente o lucro. E e a população sabe disso, tanto que quase ninguém apareceu para assistir à orientação financeira, mostrando o total fiasco deste projeto.

Pelo fato de o Santander considerar o trabalho aos sábados como “voluntário”, os bancários não receberam absolutamente nada por isto. E se sofrerem acidente ou assalto no percurso ou durante o trabalho, isso não vai configurar acidente de trabalho, não havendo os resguardos previstos em lei.

“Os altos juros e tarifas abusivas que são cobradas mostram bem qual é a ‘preocupação social’ que o Santander demonstra. Outro exemplo é a alteração da bandeira dos vales refeição e alimentação dos bancários antes mesmo de credenciar estabelecimentos onde o novo cartão poderia ser usado, deixando bem claro o ‘valor’ que o banco dá aos seus trabalhadores, que no fim das contas foram os principais responsáveis pelo lucro de R$ 12 bilhões, correspondente a 30% do resultado mundial”, completou Lucimara.

Farsa
Tentando vender a imagem de que o projeto de educação financeira aos sábados foi um sucesso, o Santander divulgou no Now, aplicativo de comunicação corporativa exclusivo para funcionários, uma série de fotos do primeiro dia da ação, o sábado 4. O problema é que o banco não explicou que as pessoas na foto eram, no caso, os “voluntários” e os dirigentes sindicais que foram às agências cobrar esclarecimentos, e não pessoas interessadas na orientação financeira do banco.

“O Santander deveria fazer melhor: estabelecer parcerias com o Idec e outras entidades que atuam na conscientização da população e baixar os juros e as tarifas abusivas que cobra. Sua imagem só deteriora quando desrespeita as leis e usa da boa vontade dos seus funcionários”, completa o dirigente sindical Marcelo Sá, alertando que o descanso aos sábados é garantido na CCT da categoria (cláusulas 8ª) e na legislação trabalhista – o artigo 224 da CLT é claro ao excetuar o sábado da jornada de trabalho bancário. Como se não bastasse, em seu artigo 1º a Lei nº 4.178 de 1962 estabelece que os estabelecimentos de crédito não funcionarão aos sábados, em expediente externo ou interno.

Mostre sua indignação
Os bancários e clientes que quiserem ajudar a cobrar do banco o respeito à legislação, ao acordo coletivo e, obviamente, ao trabalhador, podem participar pelas redes sociais! Basta publicar sua indignação usando a hashtag #SantanderSabadoNÃO. SEEB – São Paulo

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